sábado, 19 de novembro de 2011

PAI E FILHA



Autora:  Terezinha Rocha de Almeida


Pelas alamedas de Brasília, caminhavam pai e filha. O que faziam àquelas horas do dia? A filha era uma menina dos seus quatro anos. Talvez tivesse mais que isso, pois filho de pobre geralmente é raquítico e parece ter uma idade sempre menor que a verdadeira.
A menina vestia um casaco com capuz muito pequeno para seu tamanho. A peça deixava suas vestimentas íntimas à mostra. Provavelmente havia sido doado por alguém menor que ela. O casaco era branco, encardido e felpudo. A criança calçava sandálias e estava de costas para minha janela. Não pude ver-lhe a face. Como seria seu rosto? A magia estava nas suas costas.
Tinha um ar inquisitivo, uma postura displicente e caminhava de mãos dadas com o pai. De vez em quando balançava, descontraidamente, uma perninha magra. Fazia frio. O pai, um sujeito baixo e moreno, vestia jaqueta jeans e bermuda clara, acima dos joelhos. Na cabeça, usava um gorro amarelo.
O que fariam os dois àquelas horas do dia?
O pai segurava a mão da filha, balançando de vez em quando. Investigava alguma coisa, farejava procurando algo. Observava com precisão e assuntava. Estaria procurando comida? Uma área para montar um barraco ou alguma outra coisa de interesse dos dois?
A menina compenetrada imitava a mímica do pai e não só demonstrava cumplicidade, como revelava o mesmo interesse e compreensão do adulto.
Encontrávamo-nos no natal. As lojas estavam cobertas de motivos da época. A cidade se revestia de novo. Os dois contrastavam com a felicidade e a beleza do ambiente. Eram figurinhas insignificantes, perdidas num verde exuberante de uma cidade conhecida pelo poder e pela grandeza.
Depois de perscrutarem durante longo tempo, algo indecifrável foi concluído. O pai continuou apertando a mão da pequena e sumiram em meio às vitrines da quadra comercial
            Na janela do sexto andar, da quadra 205 Sul, eu ficara me interrogando acerca de tão estranha visita e sondava sobre o abismo existente entre as duas criaturas e a requintada cidade.

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