sábado, 19 de novembro de 2011

"UM CERTO DOUTOR RODRIGO"




Autora:  Terezinha Rocha de Almeida


Para Rodrigo Coutinho de Almeida, uma homenagem de sua tia-madrinha



Difícil escavar feridas, falar de nossos antepassados carregando seus fardos, falar de coisas que para muitos soam como vergonha e pequenez, mesmo diante de biografias brilhantes como a de Saramago tendo seu primeiro emprego como Serralheiro, o Presidente Lula como Torneiro Mecânico e para os que gostam de luxo e realeza, Channel como uma criança miserável e a nova "Princesa" da Inglaterra neta de um operário.
Eu não poderia homenagear apenas meu genial sobrinho Rodrigo sem evocar primeiro seus avós e bisavós, homens e mulheres guerreiros, muitas vezes excluídos, levando e tocando a vida como as formigas obreiras, quando sonhavam como cigarras, como pássaros canoros que almejavam voar, como vaga-lumes que nas noites de trevas das ladeiras de pedras e dos sertões a ermo, não ousavam ser estrelas.
Seu Luiz Gonçalves e dona Benedita Coutinho costumavam nos dias escaldantes de sol e nas noites tenebrosas de ventos e tempestades carregarem ao braço seu guarda-chuva, o "babadinho" e sua florida sombrinha, marcas registradas dos operários da fábrica de tecidos Carmem, instrumento inseparável para enfrentarem o sol e as tormentas que nem sempre mandavam recados.
Meu pai sonhara ser Advogado para defender os pobres e desvalidos, os sonhos de dona Biu eu não os conheci, deles eu conheci apenas a luta tenaz pela sobrevivência e educação dos filhos, a juventude que se foi triturada pelo trabalho e as primaveras que se trajaram em capote de chumbo, envoltos nas brumas do inverno.
Nessa doação pelo crescimento dos filhos foram também a juventude de minha mãe, Nadyr Peixoto e de seu José Coutinho que de origens mais abastadas não sofreram as agruras dos avôs operários.
A vitória de Rodrigo é também de seus antepassados, de seus pais, muito dele e um pouco nossa.
A primeira vez que vi meu sobrinho, ainda bebê, eu ainda solteira o escolhi para "meu filhote". Tinha os cabelos em penugem dourada, enormes olhos esverdeados que lembravam um certo quê de melancolia semelhante ao de sua bisavó, dona Júlia. Ele herdaria também de sua bisavó a asma brônquica que o acompanharia durante toda sua infância.
Em minha maternagem junto à minha irmã caçula Ângela e meu cunhado Emanuel estivemos com ele não apenas no sofrimento, porém nas festas e celebrações de sua meninice. Esmerava-me em copiar  meu pai, dando-lhe os mimos sempre superiores aos que eu havia recebido nas festas de carnaval, na páscoa, nas festas juninas, nos brinquedos e roupas da moda e nas festas natalinas, onde, apesar de rompida com Papai Noel desde a infância resolvi presentear-lhe com a fantasia, onde o "velhinho" brasileiro trocou a rena por cavalos, o trenó por uma charrete, mesmo esbelto e sem barriga encheu de alegria e magia a meninada.
Mais tarde conviveríamos mais um ano no seu pré-vestibular. Época em que não dispunha de tempo para colaborar com sua preparação para os exames, porém mesmo assim procurei dar para ele o que mais gostava de fazer: redigir.
Durante um ano, todas as semanas eu alternava um texto de autores clássicos como Graciliano Ramos, Rubem Braga, Machado de Assis, Rachel de Queiroz, entre outros e artigos de revistas ou jornais de boa qualificação, exigindo uma redação baseada no tema, tarefa que cumpria religiosamente, com excelente aproveitamento, tanto o foi que obteve uma  de suas melhores notas em redação, quando de sua aprovação na Federal do Mato Grosso.
Hoje meu sobrinho é um jovem e laureado cientista, porém ele tem muito mais que a ciência, o conhecimento, a cultura e como diria Sêneca, ele tem o “saber ou sabedoria", sendo isso que o faz um ser privilegiado, pois são atributos dos sábios, sendo assim o Doutor Rodrigo não é apenas um homem da academia, mas antes de tudo um ser humano iluminado.

Maceió - AL. 13-11-2011

Um comentário:

  1. Obrigado pela homenagem. Suas palavras como sempre me emocionam e me deixam muito feliz, principalmente em saber que estou representando bem o Brasil e a família. Sim, os antepassados devem ser sempre lembrados, pois a verdadeira luta começou com eles. Porém a verdadeira vitória virá quando o bom filho a casa retornar. Ainda tenho um longo caminho a seguir, não esqueço disso, espero continuar com o pé no chão e com humildade, a qual, boa parte foi ensinada por você, que sempre teve uma participação enorme em minha formação. Você sempre foi e sempre será um exemplo a ser seguido. Seu texto já está servindo como inspiração para os dias difíceis. E pra sempre lembrar do que realmente importa na vida.
    Com muito amor e carinho deixo o meu sincero comentário no seu blog, que aliás, está muito bom, acompanharei aqui da Holanda.
    Um grande beijo e um forte abraço,
    Rodrigo!

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