quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

NO SEXTO ANDAR

Autora : Terezinha Rocha de Almeida


Na verdade não sei porque estou aqui. Por que migrei? Também não sei! Encontro-me numa sala vazia, repleta de cadeiras vazias e copos vazios dispostos nos birôs.

Já não sei o que quero. A vida parece um emaranhado de problemas, de nós, de armadilhas que eu não consigo resolver.

Quando era menina, e adentrava no sítio de minha avó, embrenhava-me em meio a samambaias e emaranhados de cipoais impossíveis de desembaraçar. Hoje, passados tantos anos, a mesma sensação: imbricações, embaraços, ciladas, arapucas, labirintos, coisas do homem e da existência que a tornam difícil e dura.

Complicações. A matemática do colégio parece licor. Os primeiros amores, platônicos e irrealizáveis, são hoje como melodias suaves e adocicadas. As dúvidas da adolescência foram fardos delicados que já não pesam, nem lembram torturas.

Olhar para trás e perceber que os desafios do passado lembram acontecimentos serenos no percorrer de uma alameda cercada de árvores dadivosas, pássaros canoros e flores perfumadas.

Agora tudo é cinzento, pesado, poluído. Intricamo-nos no cipoal da vida e já não conhecemos o começo, nem o fim.

O que faço aqui, nessa sala vazia, cheia de fantasias, de funcionários públicos vencidos? Nada inspira esperança, nem vida, nem sonhos, tampouco.

E quando os sonhos se perdem que esperamos do mundo?

Meus antepassados migraram todos, perderam-se no emaranhado verde do canavial, na fumaça cinzenta dos bueiros de engenhos, das fábricas. Suas histórias ficaram misturadas às tragédias cotidianas da lavoura, às contendas dos sindicatos, às estatísticas fúnebres dos hospitais, ao obituário dos cartórios.

Apenas números. Apenas lembranças de violência, dor, doenças, heroísmos anônimos que na maioria das vezes nem chegam ao cordel.

E a gente a continuar puxando a corda de um buraco sem fundo que não nos reflete o rosto, mas sim, infinitas imagens superpostas, imprecisas, desfiguradas.

Em que ponto eu fiquei nessa multidão de seres e figuras desmanteladas, perdidas, desagregadas?

Na cor que esmaece, nos olhos que se mesclam, nos cabelos que se encrespam, no humor que se eleva ou deprime; na bondade que se esmera ou se esvai, nos perdemos na genética de nossos ancestrais.

E a história continua em ziguezague, subindo e descendo ladeiras. Alguns no topo, outros nos recôncavos e eu perdida numa estrada poeirenta sem saber a topografia do futuro. Se escarpas ou depressões, se vendavais ou calmaria. Sou um pequeno ser perdido na enxurrada da existência tentando escrever sua própria história.



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