Autora: Terezinha Rocha de Almeida
Badaladas de relógio,
negro relógio de tempos sombrios,
de mesa magra, de desalento,
de puro esquecimento.
Nas tardes remotas,
o tique-taque do relógio verde,
o caldo-de-cana, a tapioca,
os olhos verde-garrafa do meu amigo poliglota.
Dona Zefinha doceira, de olhos azuis como contas,
conversando com meu pai.
Gargalhadas, conversas maneiras.
O sol dourando, iluminando nossas vidas.
Sem medo da morte,
da separação, do futuro.
Tempos inesquecíveis, memoriáveis.
A folhinha de Santa Luzia,
o marca-mês do Coração de Jesus.
“Quem dá aos pobres, empresta a Deus”.
Era a mensagem do dia.
E o santo padroeiro, quem era?
Não lembro mais.
Frases de Platão, de Sócrates, de Aristóteles.
Eu destacava a folhinha e lia as mensagens.
Ficava encantada com tanta sabedoria.
Precisava bebê-la, mas não tinha tempo.
A vida avançava inexorável para um futuro desconhecido.
Eu precisava aprender, teria que sobreviver.
Minhas armas eram toscas, minguadas, quase inexistentes.
O tempo avançava implacável,
levando tudo na sua torrente imperdoável.
Parecia enxurrada em dia de tempestade.
Dias que ele passava lerdo, ninguém o percebia,
feito sombra, ele se esgueirava pelas frinchas das portas,
ganhava o oco das estradas, partia sorrateiro.
O tempo é matreiro,
quanta coisa ele me levou...
Nem é preciso falar.
Quantos sonhos,
quantos amores,
quanta felicidade...
E quanta coisa me sanou...
Quantas dores,
quantas feridas,
quantas perdas.
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