sábado, 15 de outubro de 2011

AS TOCHAS DA LAGOA



Autora:  Terezinha Rocha de Almeida


Lembro as luzes amarelas dos candeeiros,
trêmulas e lôbregas,
açoitadas e agitadas sobre nossas mesas.

Longe, luzes semelhantes
pareciam estrelas maduras
rivalizando com suas irmãs do infinito,
porém  tímidas e pobres.

Que abismos nos separavam daquelas luzes?
Eram mágicas, misteriosas, distantes.
Pareciam inatingíveis, como as verdadeiras lá do infinito.

A lagoa era um céu cristalino que refletia o outro.

As tochas da lagoa me fascinavam.
O que esconderiam elas?
_ São pescadores _ dizia  meu tio Bernardo,
e não há nada de belo naqueles condenados, sentenciava.

_ O que fazem eles? _ eu lhe perguntava.

_ Eles pescam!
Estão sujeitos às doenças e aos insetos,
e lá faz muito frio;
e ainda existem as serpentes, completava.
Eu não imaginava nem um pouco
o que aquilo significava.
Ficava horas e horas,
encantada com as rosas amarelas,
de ouro, luzindo, tremeluzindo, tremulando.
O espelho negro brilhante,
refletindo as chamas loucas.
Eu me encontrava longe,
não lobrigava homens,
mulheres ou crianças.

Jamais vislumbrei um rosto,
um corpo, algo humano.
Apenas luzes belas, luminosas, fascinantes
e o cristal escuro feito espelho gigante.

_ Um dia verás que não há beleza,
nem magia no trabalho pesado,
dizia, pacientemente, meu tio.

Eu não entendia,
teimosamente não compreendia,
como um trabalho tão perverso
convivia com tanta magia,
numa trama de luz,
num cenário tão belo.

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