sábado, 15 de outubro de 2011

COMO UMA CHAMA




Autora:  Terezinha Rocha de Almeida

 

Sou uma vela.
Tênue chama que se esvai.
Gasta pelo tempo, escorro, consumida.

Chama e vela unidas. Inseparáveis.
A vela se fina, a chama tremula.
Débil flama que balouça ao sabor das tormentas.

Implacável, o tempo me açoita.
Infatigável, o vento tange a chama.
Vulnerável, a vela se desmancha.

Vela, tempo, açoites, tempestades.
Junto a eles sigo em enxurrada.
Deslizo.

Frágil filete de cera derramada.
Fino e tortuoso.
Defendo-me e serpenteio
sem os ardis necessários às serpentes.

Obstáculos, arestas, precipícios.
Sinuosamente os evito.
Debalde.

As chamas me ferem,
as arestas me deixam morsa.
Precipito-me nos abismos,
as tempestades me enxotam.

Frágil chama.
O fogo devora a carne,
provoca rugas, arrasta células.

O vigor se vai, apesar de duro o cerne.
Vergo-me ao fustigar do vento.
Bruxuleio.

Acanhada mancha.
Fosforeio em luz.
Mergulho em sombras.

Resisto aos ditames da intempérie.
Sutilmente, insisto.
Deslizo.

Frágil filete de cera derramada.
Tal chama teimosa, ergo-me persistente.
Lume insignificante que ousa clarear.

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